dos leitoresOpinião

OPINIÃO: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos! – O novo fascismo brasileiro

Por Cleiton Donizete Corrêa Tereza

Há alguns anos trabalhando em uma pequena e carinhosa cidade vizinha, vivi uma experiência interessante que preciso recuperar para este momento, para este texto. Uma equipe de alunos que sob minha orientação participava da Olimpíada Nacional de História do Brasil, optou por fazer uma entrevista com um senhor já muito idoso, que havia participado do movimento integralista – a Ação Integralista Brasileira (A. I. B.), um agrupamento fascista da primeira metade do século XX no Brasil –. A grande surpresa dos alunos é que o senhor, já acamado, dizia ter participado do movimento porque gostava do lema: “Deus, pátria e família”. Ele não demonstrava conhecer as propostas e ações dos camisas verdes. Aliás, nessa cidade, na área central, tem uma rua com o nome de Plínio Salgado, líder dos fascistas brasileiros do integralismo. De fato o fascismo nunca abandonou o Brasil e não foi bem explicado e entendido pela população. Assim, aqui estamos.

Lembremos que o fascismo surgiu na Itália a cerca de cem anos, liderado por Benito Mussolini, que migrou da esquerda para a extrema direta, e seu Fascio di Combatimento. Após a Marcha Sobre Roma em 1922, ou seja, por meio da intimidação Mussolini foi nomeado Primeiro Ministro. Lembremos ainda que em 1929 o fascismo se fortaleceu com a Concordata de Latrão, acordo com a Igreja Católica que até então não reconhecia o Estado Italiano. Fascio em italiano significa feixe, porque na Roma Antiga, no período da república, os magistrados tinham em um feixe de varas envolto no cabo de um machado a representação da união do povo romano ao redor da justiça. Contudo, na Itália de Mussolini, o machado passa a representar o Estado e ele, o “Duce”, será o líder a conduzir o Estado… e nada deveria existir fora do Estado, nada contra o Estado. O fascismo se expandiu para outros países, adotando especificidades: nazismo na Alemanha, franquismo na Espanha, salazarismo em Portugal, integralismo e atualmente bolsonarismo no Brasil.

Dentre as principais características do fascismo estão: culto ao líder, nacionalismo exacerbado, mobilização das massas, anticomunismo, uniformização, forte uso de símbolos e saudações, aversão aos intelectuais, intolerância, servidão voluntária, militarização, além é claro da manipulação pelo medo e pelas emoções, o que se mostrou uma estratégia eficaz para atrair os jovens e os decepcionados em épocas de crise. Observem que todas essas caraterísticas estão presentes no bolsonarismo do “mito”. Agora não se estende o braço em saudação, mas os dedos são apontados como se fossem armas. O lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é totalitário. A uniformização é verde e amarela e os discordantes são atacados, são odiados, são vistos como ameaças a serem detidas. O próprio militar reformado disse: “vamos acabar com o ativismo!”

Um elemento do fascismo do século passado alterado para o contexto do capitalismo do século XXI foi a relação Estado e economia. A realidade hegemônica atual não permite o intervencionismo do passado, assim, o bolsonarismo anuncia, mesmo que de forma difusa, o Estado mínimo. Algo fundamental para obter o apoio do mercado e abater a classe trabalhadora, que em situação de flagelo pedirá por uma solução firme e rápida, que será apresentada pelos próprios fascistas, seu partido, seu líder e sua moral. Esta é a grande manobra do fascismo, tentar transformar fraqueza e frustrações em força e virtude. Fazer das decepções da vida, ampliadas pelas desigualdades, pólvora para extravasar de maneira agressiva sofrimentos e inseguranças.  O fascismo não é um mero conjunto de pautas extremistas, o fascismo desses dias se constitui a partir da miséria da vida cotidiana burocratizada, superficial e fragmentada, e alterar esta condição é nosso fundamental e imenso desafio.

Sobre o autor:

Cleiton Donizete Corrêa Tereza é Professor de História da rede pública, mestre e doutorando em Ciências Humanas – Diversitas-USP e membro do Coletivo Educação de Poços de Caldas.

3 thoughts on “OPINIÃO: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos! – O novo fascismo brasileiro

  • Assim como na Alemanha de Hitler, hoje no Brasil, alguns fatos que estão ocorrendo nos leva historicamente aquele passado de ódio. violência , truculência e barbárie sobre os que se manisfatassem contrário ao fuhrer . Assim como lá, aqui a alucinação transcende a razão, o ódio transcende o diálogo. a lógica, a democracia. Os velhosnovos robôs da terra de Trump, ultrapassam as fronteiras do império, e de forma devoradora, como uma serpente de filme de terror, aniquila completamente o cérebro dos mal informados e os transformam em soldados do newnazifascismo latino americano. Devemos tomar cuidado, será necessário novas estratégias de lutas para não sermos devorados por essa grande serpente do mal.

    Resposta
  • Pingback: Um cartaz censurado: o fascismo presente na educação – Jornal Pensar a Educação em Pauta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site está protegido. Para compartilhar esse conteúdo, por favor utilize as ferramentas de compartilhamento da página.

error: Este site está protegido.